sábado, 16 de abril de 2011

Precursores e seus métodos

Stanislavski

O ator e diretor russo Constantin Stanislavsky (1863-1938) está no centro da principal revolução que se operou no teatro no século 20. Com ele, a criatividade do ator não é mais um truque de técnicas; a criação do papel torna-se um ato natural, que implica o fato de o indivíduo utilizar seu próprio material humano, eliminando máscaras, clichês e estereótipos. É o conceito fundamental de Stanislavsky, o de memória de emoções. Segundo o seu sistema, o ator deve construir psicologicamente seu personagem, de forma minuciosa. Mesmo que a peça forneça poucos dados, deve-se buscar, com exercícios da imaginação, o passado e o futuro da personagem.

“Stanislavsky tem um método tão fantástico que acaba servindo a todo mundo. O próprio Brecht em determinado momento diz: É bom fazer alguns exercícios de Stanislavsky”. Sérgio Brito, ator.


Artaud


O teatro do Francês Antonin Artaud (1896-1948) é como ele próprio, múltiplo. Poeta, ator, diretor, ensaísta, esse homem conseguiu influênciar e remexer os vários principios da cultura ocidental, apesar de clinicamente ter sido considerado louco. Ele não deixou qualquer método de representação, apenas idéias incandescentes. "A estética da crueldade é isso: Um jato sangrento de imagens, tanto na mente do poeta como do espectador, pondo o sangue e a violência a serviço da poesia", dizia Artaud. A essa proposta ele chamou Teatro da crueldade.


Brecht


O dramaturgo alemão Eugen Bertolt Friedrich Brecht (1898-1956) tentou romper abertamente com o método Stanislavski em 1929, quando escreveu que o objetivo da nova arte deveria ser pedagógico, tanto no conteúdo quanto na forma. Segundo ele, o ator e o espectador deveriam se distanciar um do outro e cada um de si próprio. Com Brecht surge a teoria do distanciamento - o espectador deve tirar da peça uma lição permanente e não se identificar sentimentalmente com ela, enquanto o ator deve ser capaz de sair de sua personagem e comentar sua interpretação. Isso não significa dizer que Brecht não valorizava a emoção. O diretor Amir Hadad elege Brecht como o teórico que mais o influencou: "Eu não tenho dúvidas de que todos os atores deste século, conhecendo ou não Brecht, são influenciados pela obra dele".


Grotowski


Na década de 60, o polones Jersy Grotowski (1933-1999) modificou a maneira de pensar a atuação cênica. Disse que o teatro deveria recuperar sua "pobreza", despindo-se do desnecessário. Segundo ele, os figurinos, os cenários, a música, os efeitos de luz e até mesmo o texto dramático são acessórios dispensáveis. Mas não o ator. Sua meta era criar o "ator Santo", que se revela por inteiro, sendo capaz de expressar, através do som e do movimento, os impulsos que estão no limite do sonho e da realidade. O ator brasileiro Cacá Carvalho, que fez parte da Companhia de Grotowski diz "É a origem do teatro na sua essência, num mundo onde a massificação é preponderante. Onde cada espectador seja um indivíduo com uma visão própria sobre o espetáculo, e não uma platéia uniforme". Frase " como o material do ator é o próprio corpo, esse deve ser treinado para obedecer, para ser flexível, para responder passivamente aos impulsos psíquicos, como se não existisse no momento da criação - não oferecendo resistência alguma. A espontaneidade e a disciplina são os aspectos básicos do trabalho do ator, e exigem uma chave metódica " Grotowski.


Augusto Pinto Boal (1931-2009)


Foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional. Fundador do Teatro do Oprimido, que alia o teatro à ação social, suas técnicas e práticas difundiram-se pelo mundo, notadamente nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política mas também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional. "O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores'. " Boal tem uma obra escrita expressiva, traduzida em mais de vinte línguas, e suas concepções são estudados nas principais escolas de teatro do mundo. O livro Teatro do oprimido e outras poéticas políticas trata de um sistema de exercícios ("monólogos corporais"), jogos (diálogos corporais) e técnicas de teatro-imagem, que, segundo o autor, podem ser utilizadas não só por atores mas por todas as pessoas.

O Teatro do oprimido tem centros de difusão nos Estados Unidos, na França e no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, Santo André e Londrina. Augusto Boal foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2008, em virtude de seu trabalho com o Teatro do Oprimido. Em março de 2009, foi nomeado pela Unesco embaixador mundial do teatro. Suas idéias, adotadas em diversas iniciativas em todo o mundo, renderam-lhe um reconhecimento que pode ser expresso nos seguintes comentários, que figuram no seu livro Teatro do oprimido e outras poéticas políticas . * "Boal conseguiu fazer aquilo com que Brecht apenas sonhou e escreveu: um teatro alegre e instrutivo. Uma forma de terapia social. Mais do que qualquer outro homem de teatro vivo, Boal está tendo um enorme impacto mundial" - Richard Schechner, diretor de The Drama Review. * "Augusto Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislawski." - The Guardian.

Augusto Boal morreu recentemente no dia 2 de maio de 2009, aos 78 anos, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, por insuficiência respiratória. Boal sofria de leucemia.


Texto extraído do site: http://www.guiadoator.com.br/revista-do-ator/62-teatro/602-os-precursores-e-seus-metodos-aplicados-a-arte-de-atuar.html

Um comentário:

  1. Reverenciando os mestres!!!!
    Que a arte e quem a admira esteja em constante busca de conhecimento e crescimento...

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